A Evolução das Estratégias Globais Multi-Manager e Fund-of-Funds em Hedge Funds
A Evolução das Estratégias Globais Multi-Manager e Fund-of-Funds em Hedge Funds
No cenário atual de investimentos globais, agregar múltiplas estratégias tornou-se essencial para capturar plenamente as diversas oportunidades disponíveis. A vasta escala dos mercados internacionais, aliada ao conhecimento especializado necessário para explorar nichos com fontes de alpha1 mais estáveis, leva os investidores a concentrarem-se em estratégias específicas. Esse processo ocorre em dois layers: primeiramente, identificam-se as melhores estratégias e, em seguida, combina-se essas opções de forma integrada, criando um portfólio coeso. Ao incorporar uma gama variada de estratégias, os investidores acessam oportunidades exclusivas, construindo portfólios mais resilientes e alinhados com a natureza complexa e dinâmica dos hedge funds2.
À medida que o mercado de hedge funds amadureceu, duas abordagens distintas emergiram para combinar fontes de alpha em um único portfólio, com o objetivo de reduzir a volatilidade3: os Fund-of-Funds4 e as estruturas Multi-Manager5. Os Fund-of-Funds tradicionalmente agregam investimentos em diferentes hedge funds, abrangendo múltiplas estratégias em um único veículo, e oferecem gerenciamento de portfólio por meio de alocações e dimensionamento dos investimentos. Já as estruturas Multi-Manager reúnem gestores de portfólio (e suas operações) sob um único gestor de ativos e veículo, proporcionando gerenciamento de portfólio por meio da gestão de risco6 das operações integradas entre as estratégias.
A indústria de hedge funds passou por transformações significativas na última década. Durante esse período, os veículos Fund-of-Funds perderam destaque, enquanto as estruturas Multi-Manager se tornaram mais sofisticadas. Os Fund-of-Funds foram criticados por não agregarem valor substancial na construção de portfólios7, focando mais no acesso a hedge funds do que em uma abordagem estratégica e ajustada ao risco.
Nos últimos anos, porém, as plataformas Multi-Manager têm enfrentado uma intensa competição por talentos, levando ao que muitos consideram uma “corrida armamentista” que pressiona os custos, limita a capacidade e aumenta a dispersão de resultados. Paralelamente, os Fund-of-Funds têm adotado ferramentas como contas segregadas8 e notas estruturadas para oferecer exposições mais personalizadas, permitir o gerenciamento da alavancagem9 em tempo real e melhorar a diversificação dos portfólios. Essas mudanças têm ajudado a recuperar a relevância dos Fund-of-Funds, oferecendo uma visão aprofundada do risco, com insights sobre as características dos gestores, precificação diária dos ativos e métricas como drawdown10, volatilidade e correlação11, espelhando o nível de supervisão presente nas estruturas Multi-Manager.
Atualmente, as distinções entre essas abordagens estão cada vez menos definidas, criando um novo padrão para alocações em hedge funds. Compreender essa evolução ajuda a explicar por que uma abordagem moderna de Fund-of-Funds, que incorpora elementos das estruturas Multi-Manager, tornou-se uma estratégia atraente. Ao adotar essas ferramentas e estruturas, os Fund-of-Funds conseguem acessar um pool de talentos mais amplo, incluindo gestores que atuam fora das tradicionais plataformas multi-estratégia.
Uma Perspectiva Histórica
Nos primeiros anos dos hedge funds, a maioria das empresas era administrada por um único gestor de portfólio (Portfolio Manager, ou PM) ou por uma pequena equipe responsável por todas as decisões de investimento. Com o tempo, a necessidade de diversificação12 — especialmente após a crise financeira global de 2008 — levou ao surgimento do modelo Multi-Manager, onde múltiplos PMs gerenciam estratégias distintas dentro de uma estrutura centralizada. Essa mudança reflete uma nova filosofia de investimento, na qual a equipe de investimento tradicional torna-se quase secundária. A geração de alpha passa a ser “industrializada”, com a área de risco assumindo um papel central: monitorar drawdowns, volatilidade e correlações dos gestores, priorizando o controle de risco em vez de focar exclusivamente nas decisões individuais dos PMs. A era dos gestores “estrela” cedeu lugar a uma abordagem estruturada e industrializada, com foco em um sistema robusto que integra múltiplas estratégias de forma coesa e controlada.
Esse modelo de Multi-Manager cresceu rapidamente, com o AUM dos hedge funds nesse segmento expandindo 175% entre 2017 e 2023, em comparação com um crescimento de apenas 13% no universo mais amplo de hedge funds. As maiores empresas dessa área agora administram volumes substanciais, com ativos sob gestão superiores a US$ 50 bilhões cada. Operam com grandes equipes altamente estruturadas, empregando frequentemente centenas de gestores de portfólio e analistas especializados, cada um focado em estratégias específicas dentro de uma estrutura centralizada de gerenciamento de risco. Essa escala e organização permitem uma diversificação eficiente em múltiplas classes de ativos e regiões, proporcionando retornos mais estáveis e um controle de riscos rigoroso — uma estrutura resiliente, capaz de se adaptar a diferentes condições de mercado.
O rápido crescimento dos hedge funds Multi-Manager nos últimos anos suscitou debates na indústria sobre a possibilidade de o mercado de multi-estratégia ter atingido seu "pico". Embora não haja consenso, espera-se que as plataformas Multi-Manager mais bem-sucedidas continuem a prosperar, enquanto outras podem enfrentar dificuldades para manter a competitividade. Algumas grandes plataformas já devolveram capital aos investidores para evitar a diluição dos retornos, reconhecendo os desafios de alocar capital adicional de maneira eficiente.
Embora as plataformas Multi-Manager possam continuar capturando uma expertise significativa, ainda há um amplo universo de gestores talentosos fora dessas estruturas. Muitos gestores de hedge funds preferem operar de forma independente, motivados por objetivos empreendedores ou pela preferência por estratégias que não se adequam aos rigorosos requisitos de portfólio e risco impostos pelo modelo Multi-Manager.
Para aproveitar plenamente o talento disponível e maximizar o alpha, os investidores devem considerar formatos e estruturas complementares, como os Fund-of-Funds, que agora utilizam ferramentas inovadoras para acessar talentos, gerenciar riscos e personalizar alocações. A combinação de estruturas Multi-Manager com Fund-of-Funds amplia substancialmente o pool de talentos disponível para investimento.
Evolução das Fronteiras Entre Multi-Manager e Fundos de Fundos
A distinção entre Multi-Manager e Fund-of-Funds tem se estreitado recentemente. Os Fund-of-Funds, que tradicionalmente dependiam exclusivamente de veículos como fundos, agora utilizam cada vez mais contas segregadas e notas estruturadas para obter exposições personalizadas e ajustar os níveis de alavancagem em tempo real. Essa mudança amplia o universo de investimentos e oferece novas ferramentas para o gerenciamento do portfólio, incluindo ajustes de alavancagem e customização de estratégias.
Paralelamente, em uma reviravolta interessante, os hedge funds Multi-Manager começaram a incorporar gestores externos por meio de contas segregadas13. Essa evolução permite que os Fund-of-Funds monitorem seus portfólios com uma visão de risco muito mais refinada, incluindo acesso às posições dos gestores e à precificação diária dos ativos, possibilitando uma compreensão precisa de drawdown, volatilidade e correlação de cada gestor. Como resultado, os Fund-of-Funds conseguem gerenciar essas métricas quase tão eficazmente quanto um oficial de risco em uma estrutura multi-estratégia, alcançando um resultado estratégico semelhante.
Outro fator chave que impulsiona a convergência entre hedge funds Multi-Manager e Fund-of-Funds é a adoção de taxas de repasse (Pass Through Fees)14 pelas plataformas Multi-Manager. Com o aumento da competição por talentos e os custos associados, as empresas Multi-Manager passaram a adotar uma estrutura de Pass Through Fees, na qual as despesas operacionais — incluindo custos de aquisição de talentos, investimentos em tecnologia e despesas administrativas — são repassadas diretamente aos investidores, em vez de serem absorvidas pela empresa.
Esse modelo se distancia da estrutura tradicional, onde os clientes pagam uma única taxa ao fundo Multi-Manager, cobrindo todas as despesas dos gestores de portfólio. Com a nova abordagem, os investidores pagam tanto ao fundo Multi-Manager quanto cobrem as taxas de cada gestor de portfólio individualmente. Essa estrutura se aproxima do modelo dos Fund-of-Funds, onde os investidores pagam pelo acesso a diversos gestores independentes.
A Importância da Construção de Portfólio em Hedge Funds
No cenário atual de investimentos, especialmente no espaço dos investimentos alternativos, onde as estratégias são cada vez mais complexas e interconectadas, a verdadeira vantagem competitiva está na capacidade dupla de identificar talentos de alto nível e construir um portfólio otimizado, independentemente da estrutura utilizada para acessá-los. Tanto as plataformas Multi-Manager quanto os Fund-of-Funds enfrentam o desafio crítico de agregar talentos — sourcing de gestores diversificados e de alto calibre e integração de suas competências distintas em um portfólio coeso e equilibrado. Os investidores já não se satisfazem com estratégias isoladas; eles buscam uma abordagem baseada em skills, na qual a expertise de um gestor é não apenas aproveitada, mas incorporada de forma eficaz a uma estrutura que potencialize o portfólio como um todo.
Essa tarefa exige uma compreensão avançada de construção de portfólio e prêmios de risco. Os gestores devem selecionar e combinar talentos complementares, assegurando que cada um contribua para uma mistura robusta de fontes de alpha, mitigação de riscos e correlação mínima com outras estratégias. A arte e a ciência da construção de portfólio tornaram-se tão cruciais quanto a própria identificação de talentos, pois a capacidade de equilibrar habilidades em um portfólio bem gerido pode amplificar as forças de cada gestor enquanto reduz os riscos de perdas.
Farview e a Evolução das Estruturas Multi-Manager e Fund-of-Funds
A Farview busca exemplificar a evolução no investimento em hedge funds ao combinar elementos dos modelos Fund-of-Funds e Multi-Manager. Nossa abordagem concentra-se em um gerenciamento de risco cuidadoso e na construção de portfólios, com flexibilidade para alocar capital a gestores terceirizados. Acreditamos que essa estratégia permite capturar diversas fontes de alpha e gerenciar riscos de forma eficaz, oferecendo aos investidores acesso a uma combinação de estratégias descorrelacionadas. Ao equilibrar elementos dos modelos tradicionais de Fund-of-Funds e Multi-Manager, visamos contribuir para os avanços nos investimentos alternativos, enfatizando a importância da agregação de habilidades para gerar retornos sustentáveis.
Acreditamos que a tendência de combinar estratégias de investimento via Multi-Manager e Fund-of-Funds reflete uma evolução natural da indústria. Hoje, os investidores contam com plataformas diversificadas que integram talentos internos e externos, criando mais oportunidades para identificar e aproveitar competências em todo o mercado. Um fator essencial para bons resultados é a construção cuidadosa do portfólio, evitando concentrações geográficas, de estilo ou dependência de gestores individuais. Nossa abordagem busca um portfólio equilibrado e independente de fatores específicos, com foco em diversificação e resiliência.
Esse processo disciplinado nos ajuda a manter o portfólio alinhado com objetivos claros, focando na consistência dos retornos e na gestão de risco em diferentes cenários de mercado. O Farview Global Alpha reflete essa visão, oferecendo aos investidores uma solução para exposição diversificada a hedge funds líquidos15, por meio de uma seleção estratégica de diferentes estratégias.
Referencia: Industrializing Alpha: A Look at Multi-Manager Hedge Funds and Modern Allocation Strategies
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Alpha: Uma medida do retorno excedente de um investimento em relação a um índice de referência. Nos hedge funds, normalmente refere-se aos retornos gerados pela habilidade dos gestores, separadamente do desempenho geral do mercado.
Hedge Funds: Um fundo de investimento que utiliza uma variedade de estratégias para obter retornos ativos para seus investidores. Hedge funds são tipicamente menos regulamentados e podem utilizar alavancagem, derivativos e venda a descoberto para atingir seus objetivos.
Volatilidade: Uma medida estatística da dispersão dos retornos de um ativo ou índice de mercado. Maior volatilidade indica maior risco, pois reflete oscilações mais amplas nos preços dos ativos ao longo do tempo.
Fundo de fundos (Fund of Funds): Veículo de investimento que aloca capital em diversos hedge funds, proporcionando aos investidores um portfólio diversificado por meio de diferentes gestores e estratégias. Esse modelo visa alcançar uma exposição ampla a várias fontes de retorno.
Multi-gestor (Multi-manager): Um modelo de investimento em que múltiplos gestores de portfólio (PMs) gerenciam estratégias distintas dentro de uma única estrutura. Esse modelo busca combinar diferentes talentos e estratégias para formar um portfólio balanceado e diversificado, com gerenciamento de risco centralizado.
Gestão de risco: A prática de identificar, avaliar e priorizar potenciais riscos de um portfólio e tomar medidas para minimizá-los ou controlá-los. Nos hedge funds, o gerenciamento de risco geralmente envolve o monitoramento de métricas como volatilidade, drawdown e correlação para proteger o capital.
Construção de portfólio: O processo de selecionar e combinar investimentos de forma a atingir diversificação, gerenciar o risco e alcançar metas de desempenho específicas. Uma construção de portfólio eficaz é fundamental para criar uma estratégia de investimento equilibrada.
Contas segregadas (Segregated Managed Accounts - SMAs): Contas de investimento que são mantidas separadamente do fundo principal para proporcionar exposição personalizada a ativos ou estratégias específicos. As contas segregadas permitem uma gestão de risco e alavancagem mais ajustada às necessidades do investidor.
Alavancagem: O uso de capital emprestado ou derivativos financeiros para aumentar o retorno potencial de um investimento. Embora a alavancagem possa amplificar ganhos, ela também aumenta os riscos.
Drawdown: Uma medida de declínio entre o valor máximo de um portfólio até seu ponto mais baixo. Os drawdowns ajudam a avaliar o risco de uma estratégia de investimento, mostrando o quanto ela pode perder em uma situação de baixa.
Correlação: Métrica que descreve a relação entre os movimentos de dois ativos. Uma baixa ou negativa correlação entre ativos em um portfólio indica diversificação, pois os ativos não se movem em conjunto, ajudando a reduzir o risco.
Diversificação: Estratégia que envolve a distribuição de investimentos entre diferentes ativos, setores ou regiões geográficas para reduzir a exposição ao risco. A diversificação busca equilibrar risco e retorno em um portfólio.
Contas gerenciadas: Contas em que um portfólio é gerenciado em nome do investidor, permitindo a personalização em termos de estratégia, tolerância ao risco e metas de investimento. Contas gerenciadas oferecem maior transparência e controle em comparação com fundos tradicionais.
Taxas de repasse (Pass-Through Fees): Estrutura de taxas em que certas despesas operacionais, como aquisição de talentos, investimentos em tecnologia e custos administrativos, são repassadas diretamente aos investidores, em vez de serem absorvidas pela empresa de gestão.
Líquidez: Refere-se à facilidade com que um ativo ou valor mobiliário pode ser convertido em dinheiro sem afetar significativamente seu preço de mercado. Hedge funds podem investir em ativos líquidos (facilmente negociáveis) e ilíquidos (mais difíceis de negociar), dependendo de sua estratégia.